O gênero textual crônica são textos narrativos e curtos que abordam temas da vida cotidiana, geralmente exploram situações comuns do dia a dia, eventos sociais, culturais ou políticos, e até mesmo questões filosóficas, utilizando uma linguagem acessível e próxima do leitor.
De acordo com a leitura dos jornais impressos brasileiros, a maioria das notícias é construída com base na imparcialidade e objetividade das informações.
Entretanto, existe um gênero textual que oferece uma maneira diferente de contar os eventos e acontecimentos do dia a dia: a Crônica. Assim, surge como um gênero híbrido que combina literatura e jornalismo.
Assim, se você quer entender como funciona o gênero textual crônica, continue com o CRIA. Boa leitura.
A história da crônica
O termo “crônica” vem da palavra grega “chronos”, que significa “tempo”. Por isso, crônica pode ser referida ao significado original de “cronos” em vários dicionários.
No século XIX, o termo “crônica” assumiu um significado exclusivamente literário, e sua acepção moderna começou a ser usada. Além disso, o autor Massaud Moisés explica que a ampla disseminação da mídia ajudou o vocábulo a se tornar uma “narrativa histórica” nos jornais.
Com o Romantismo e o desenvolvimento da imprensa, a crônica surgiu no Brasil há cerca de 150 anos, considerada um dos mais antigos gêneros jornalísticos.
Então, a princípio, foi designada pelo nome do folhetim, como afirma João Roberto Faria no prefácio do livro Crônicas Escolhidas, escrito por José de Alencar.
Desse modo, desde o início, a crônica abordava uma variedade de temas comuns, que continuam presentes na configuração desse gênero até hoje.
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O que é o gênero textual crônica?
A crônica é um tipo de escrita textual em que os escritores realizam uma reflexão pessoal sobre as coisas que acontecem no mundo real.
Desse modo, ela vai além da reprodução de fatos, revelando aspectos não percebidos do cotidiano. Além disso, é fragmentário porque não trata de todos os fatos, mas apenas alguns detalhes importantes.
Na maioria das vezes, esse tipo de texto é curto e rápido, quase sempre escrito em linguagem comum ou familiar.
“(…) tanto em relação ao sentido tradicional do termo quanto em relação ao sentido moderno, é que a crônica, pela sua própria origem, está sempre ligada a ideia contida no radical do termo que a designa: assim, seja um registro do passado, seja um flagrante do presente, a crônica é sempre um resgate do tempo”
Flora Bender e Ilka Laurito (1993)
Qual a estrutura da crônica?
Embora as crônicas tenham uma grande variedade de estruturas, elas geralmente incluem uma narrativa fluida e uma voz narrativa única.
Desse modo, ela pode ser escrita em primeira ou terceira pessoa e tomar várias formas, como diálogos, monólogos, relatos de eventos e fragmentos de pensamentos, entre outras.
Além disso, para transmitir sua mensagem de forma envolvente e atraente, a crônica frequentemente usa elementos literários como ironia, humor, metáforas e analogias.
Quais são os tipos de crônica?
Existem vários tipos de crônicas, cada uma com características específicas que refletem diferentes abordagens, estilos e temas.
Assim, alguns dos tipos mais comuns de crônicas incluem:
Crônica Narrativa:
Este tipo de crônica apresenta uma narrativa contínua, geralmente em primeira pessoa, que descreve eventos, experiências pessoais ou situações do cotidiano de forma detalhada e envolvente. Assim, é como uma pequena história que cativa o leitor com seus elementos narrativos.
Crônica humorística:
A crônica humorística é caracterizada por seu tom leve e divertido, muitas vezes usando ironia, sarcasmo e situações cômicas para explorar aspectos engraçados da vida cotidiana. Desse modo, seu objetivo principal é entreter e fazer o leitor rir.
Crônica crítica:
Na crônica crítica, o autor faz análises e críticas sobre questões sociais, políticas, culturais ou outros aspectos da sociedade. Assim, ele pode levantar questões polêmicas, expressar opiniões firmes e oferecer perspectivas alternativas sobre determinados assuntos.
Crônica reflexiva:
Esse tipo de crônica é mais introspectivo e filosófico, abordando questões mais profundas da vida, da sociedade e da existência humana. Nesse sentido, o autor utiliza a crônica como um meio de expressar suas reflexões, questionamentos e insights sobre o mundo ao seu redor.
Exemplo de crônica:
Entre os diversos gêneros textuais e literários, a crônica se destaca pela sua capacidade única de capturar a essência da vida cotidiana com uma mistura de observação aguçada, reflexão e humor.
Assim, confira abaixo um exemplo de crônica:
“Direito dos burros” – Machado de Assis
Ontem de manhã, indo ao jardim, como de costume, achei lá um burro. Não leram mal, não, meus senhores, era um burro de carne e osso, mais osso que carne. Ora, eu tenho rosas no jardim, rosas que cultivo com amor que me querem bem, que me saúdam todas as manhãs com os seus melhores cheiros, e dizem sem pudor coisas mui galantes sobre as delícias da vida, porque eu não consinto que as cortem do pé. Hão de morrer onde nasceram.Vendo o burro naquele lugar, lembrei-me de Lucius, ou Lucius de Tessália, que, só com mastigar algumas rosas, passou outra vez de burro a gente. Estremeci, e – confesso a minha ingratidão – foi menos pela perda das rosas, que pelo terror pródigo. Hipócrita, como me cumpria ser, saudei o burro com grandes reverências, e chamei-lhe Lucius. Ele abanou as orelhas, e retorquiu:
– Não me chamo Lucius.
Fiquei sem pinga de sangue; mas para não agravá-lo com demonstração de espanto, que lhe seriam duras, disse:
– Não? Então o nome de Vossa Senhoria…?
– Também não tenho senhoria. Nomes só se dão a cavalos, e quase exclusivamente a cavalos de corrida. Não leu hoje telegramas de Londres, noticiando que nas corridas de Oaks venceram os cavalos Fulano e Sicrano? Não leu a mesma coisa quinta-feira, a respeito das corridas de Epsom? Burro de cidade, burro que puxa bond ou carroça não tem nome; na roça pode ser.
Cavalo é tão adulado que, vencendo uma corrida na Inglaterra, manda-se-lhe o nome a todos os cantos da terra. Não pense que fiz verso: às vezes saem-me rimas da boca, e podia achar editor para elas, se quisesse; mas não tenho ambições literárias. Falo rimado, porque falo poucas vezes, e atrapalho-me. Pois, sim senhor. E se sabe quem é primeiro dos cavalos vencedores de Epsom, o que se chama Ladas? É o próprio chefe do governo, lord Roseberry, que ainda não há muito ganhou com ele dois mil guinéus.
– Quem é que lhe conta todas essas coisas inglesas?
– Quem? Ah! meu amigo, é justamente o que me traz a seus pés, disse o burro ajoelhando-se, mas levantando-se a meu pedido. E continuou: Sei que o senhor se dá com gente de imprensa, e vim aqui para lhe pedir que interceda por mim e por uma classe interira, que devia merecer alguma compaixão…
– Justiça, justiça emendei eu com hipocrisia e servilismo.
– Vejo que me compreende. Ouça-me; serei breve. Em regra, só se devia ensinar aos burros a língua do país; mas o finado Greenough, o primeiro gerente que teve a companhia do Jardim Botânico, achou que devia mandar ensinar inglês aos burros dos bonds. Compreende-se o motivo do ato. Recém chegado ao Rio de Janeiro, trazia mais vivo que nunca o amor da língua natal. Era natural crer que nenhuma outra cabia a todas as criaturas da terra. Eu aprendi com facilidade.
– Como? Pois o senhor é contemporâneo da primeira gerência?
– Sim, senhor; eu e alguns mais. Somos já poucos, mas vamos trabalhando. Admira-me que se admire. Devia conhecer os animais de 1869 pela valente decrepitude com que, embora deitando a alma pela boca, puxamos os carros e os ossos. Há nisto um resto da disciplina, que nos deu a primeira educação. Apanhamos, é verdade, apanhamos de chicote, de ponta de pé, de ponta de rédea, de ponta de ferro, mas é só quando as poucas forças não acodem ao desejo; os burros modernos, esses são teimosos, resistem mais à pancadaria. Afinal, são moços.
Suspirou e continuou:
– No meio de tanta aflição, vale-nos a leitura, principalmente de folhas inglesas e americanas, quando algum passageiro as esquece no bond. Um deles esqueceu anteontem um número do Pruth. Conhece o Pruth?
– Conheço.
– É um periódico radical de Londres, continuou o burro, dando à força, a notícia, como um simples homem. Radical e semanal. É escrito por um cidadão, que dizem ser deputado. O número era o último, chegadinho de fresco. Mal me levaram à manjedoura, ou coisa que o valha, folheei o periódico da Labouchére… Chamava-se Labouchére o redator. O periódico publica sempre em duas colunas notícia comparativa das sentenças dadas pelos tribunais londrinos, com o fim de mostrar que os pobres e desamparados têm mais duras penas que os que o não são, e por atos de menor monta. Ora, que hei de ler no número chegado? Coisas destas. Um tal John Fearon Bell, convencido de maltratar quatro
potros, não lhes dando suficiente comida e bebida , do que resultou morrer um e ficarem três em mísero estado, foi condenado a cinco libras de multa; aoa lado desse vinha o caso de Fuão Thompson, que foi encontrado a dormir em um celeiro e condenado a uma mês de cadeia. Outra comparação. Eliott, acusado de maltratar dezesseis bezerros, cinco libras de multa e custas. Mary Ellen Connor, acusada de vagabundagem, um mês de prisão. William Poppe, por não dar comida bastante a oito cavalos, cinco libras e custas. William Dudd, aprendiz de pescador, réu de desobediência, vinte e dois dias de prisão. Tudo mais assim. Um rapaz tirou um ovo de um faisão de um ninho: quatorze dias de cadeia. Um senhor maltratou quatro vacas: cinco libras e custas.
– Realmente, disse eu sem grande convicção, a diferença é enorme…
– Ah! meu nobre amigo! Eu e os meus pedimos essa diferença, por maior que seja. Condenem a um mês ou a um ano os que tirarem ovos ou dormirem na rua; mas condenem a cinquenta ou cem mil-réis aqueles que nos maltratam por qualquer modo, ou não nos dando comida suficiente, ou, ao contrário, dando-nos excessiva pancada. Estamos prontos a apanhar, é nosso costume; mas seja com moderação, sem esse furor de cocheiros e carroceiros. O que o tal inglês acha pouco para punir os que são cruéis conosco, eu acho que é bastante. Quem é pobre não tem vícios. Não exijo cadeia para os nossos opressores, mas uma pequena multa e custas, creio que serão eficazes. O burro ama só a pele; o homem ama a pele e a bolsa. Dê-se-lhe na bolsa; talvez a nossa pele padeça menos.
– Farei o que puder; mas…
-Mas quê? O senhor afinal é da espécie humana, há de defender os seus. Eia, fale aos amigos da imprensa; ponha-se a frente de um grande movimento popular. O conselho municipal vai levantar empréstimo, não? Diga-lhe que, se lançar uma pena pecuniária sobre os que maltratam burros, cobrirá cinco ou seis vezes o empréstimo, sem pagar juros, e ainda lhe sobrará dinheiro para o Teatro Municipal, e para teatros paroquiais, se quiser. Ainda uma vez, respeitável senhor, cuide um pouco de nós. Foram os homens que descobriram que nós éramos seus tios, senão diretos, por afinidade. Pois, meu caro sobrinho, é tempo de reconstituir a família. Não nos abandone, como no tempo em que os burros eram parceiros dos escravos. Faça o nosso Treze de Maio. Lincoln dos teus maiores, segundo o evangelho de Darwin, expede a proclamação da nossa liberdade!
Não se imagina a eloquência destas últimas palavras. Cheio de entusiasmo, prometi, pelo céu e pela terra, que faria tudo. Perguntei-lhe se lia o português com facilidade; e, respondendo-me que sim, disse-lhe que procurasse a Gazeta de hoje. Agradeceu-me com voz lacrimosa, fez um gesto de orelhas, e saiu do jardim vagarosamente, cai aqui, cai acolá.
10/jun./1984
In: ASSIS, Machado de. Fuga do hospício e outras crônicas. Para gostar de ler. 2ª edição. São Paulo: Ática, 2002.
Proposta de redação gênero textual crônica
A crônica, que é an arte de narrar experiências do cotidiano, refletir sobre questões sociais ou simplesmente se divertir com as ironias da vida. Por isso, este tipo de texto pode ser encontrado nas páginas de jornais e revistas, nas vozes de cronistas conhecidos.
Devido a essa relevância, em 2015, a UFSC trouxe na sua prova de redação uma proposta de produção textual de crônica. Então, confira abaixo a proposta de 2015:
Proposta 2:
Considere os excertos abaixo, reflita sobre os significados do envelhecimento na contemporaneidade e redija uma crônica sobre esse tema.
Fiquei velho
Tempus fugit… Sim, o tempo foge sem parar. Mas, por convenção, só nos lembramos disso em datas especiais. Minha data chegou. Mudaram-se os meus números. Oficialmente fiquei mais velho. Sessenta e oito anos! Nunca imaginei que isso iria me acontecer. Mas aconteceu. Fiquei velho. Não é ruim. A velhice tem uma beleza que lhe é própria. A beleza das velhas árvores é diferente da beleza das árvores jovens. […]
Rubem Alves
Texto 2:
A tendência contemporânea é rever os estereótipos associados ao envelhecimento. A ideia de um processo de perdas tem sido substituída pela consideração de que os estágios mais avançados da vida são momentos propícios para novas conquistas, guiadas pela busca do prazer e da satisfação pessoal. As experiências vividas e o saberes acumulados são ganhos que oferecem oportunidades de realizar projetos abandonados em outras etapas e estabelecer relações mais profícuas com o mundo dos mais jovens e dos mais velhos.
Guita Grin Debert
Análise da proposta de redação UFSC 2015
Após considerar os excertos, o candidato deveria refletir sobre os significados do envelhecimento na contemporaneidade e redigir uma crônica sobre esse tema. Havia, portanto, a necessidade de se elaborar um texto de caráter narrativo e/ou ensaístico que tomasse a noção de envelhecimento como mote.
Foi determinado pela banca antes do início da avaliação que, por ser um gênero bastante híbrido, tanto textos mais próximos da estrutura narrativa de um conto quanto aqueles que fossem mais analíticos, mais próximos da dissertação, seriam avaliados sem que houvesse descontos, desde que promovessem uma reflexão sobre o envelhecimento na atualidade.
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Através do modelo, o CRIA realiza previsões de notas por competência, análise de contexto na introdução, previsão de defesa de tese, previsão de fuga ao tema, previsão de intervenção, uso de parônimas e homônimas, etc.
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