Repertório sociocultural sobre aporofobia

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Aporofobia é o desprezo e a aversão aos pobres, conceito da filósofa Adela Cortina. Tema relevante em redações sobre desigualdade, exclusão social e direitos humanos, pode ser exemplificado em obras como Vidas Secas e Capitães da Areia.

Pessoa estudando em uma mesa com materiais de apoio. Há um laptop aberto, um caderno, lápis coloridos, post-its e um livro sendo lido. A cena mostra um ambiente de estudo organizado e concentrado.

Em uma sociedade marcada por contrastes profundos, a pobreza não é apenas uma condição econômica — muitas vezes, torna-se motivo de rejeição, invisibilidade e violência simbólica.

A aporofobia, conceito desenvolvido pela filósofa espanhola Adela Cortina, dá nome a essa forma de exclusão que atinge quem menos tem: o desprezo e o medo dos pobres.

Desse modo, reconhecer e nomear esse fenômeno é um passo essencial para compreender como a desigualdade ultrapassa números e estatísticas, transformando-se em uma ferida ética e social que desafia nossa capacidade de empatia e justiça.

Então, para aprofundar melhor no repertório sociocultural sobre aporofobia, continue com o CRIA e boa leitura!

O que é aporofobia? Definição e origem

A Aporofobia é a aversão, medo ou desprezo aos pobres. Não se trata apenas de um preconceito, mas de uma repulsa ou discriminação em relação aos desfavorecidos ou à própria pobreza. [1]

O termo tem origem no grego, sendo a junção das palavras:

  • Áporos: significa pobre ou sem recursos.
  • Phobos: significa aversão ou medo.

O conceito foi cunhado e popularizado pela filósofa espanhola Adela Cortina na década de 1990 para dar um nome específico à rejeição social direcionada unicamente àqueles que nada podem oferecer em troca, distinguindo-a de outras formas de preconceito como a xenofobia ou o racismo. [2]

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Aporofobia e pobreza extrema no Brasil: o desafio da Agenda 2030

A aporofobia, o desprezo e aversão aos pobres, manifesta-se como uma das principais fontes de violência contra a população em vulnerabilidade. Esse ódio social se intensifica diante do cenário de crescente miséria no Brasil.

Segundo dados alarmantes do IBGE (2018), a extrema pobreza, medida por um rendimento domiciliar per capita inferior a US$ 1,90 por dia (aproximadamente R$ 140,00 mensais em 2017), registrou um aumento preocupante. Entre 2016 e 2017:

  • O percentual de pessoas abaixo desta linha subiu de 6,6% para 7,4%.
  • Isso representou um aumento de mais de 15 milhões de pessoas em situação de extrema pobreza.
  • Cerca de 55 milhões de brasileiros viviam com menos de R$ 406 por mês (situação de pobreza) em 2017. [3]

Desse modo, essa escalada da pobreza no país contradiz o compromisso internacional assumido pelo Brasil. A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2015, estabelece 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Entre eles, o ODS 01 possui a meta explícita de “acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares”. [4]

Portanto, o avanço da pobreza e a negligência das metas do ODS 01 no Brasil resultam no crescimento vertiginoso da aporofobia, um ódio que legitima a exclusão e a violência contra o desvalido.

Aporofobia no Brasil: o papel do Padre Júlio Lancellotti

No Brasil, o conceito ganhou grande notoriedade e experiência prática através da militância do Padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua.

Assim, ele popularizou o uso do termo ao denunciar publicamente as manifestações de ódio e segregação contra a população em situação de rua, pressionando o poder público a reconhecer o problema.

O Padre Júlio Lancellotti foi um dos principais nomes na luta contra o que se convencionou chamar de Arquitetura Hostil.

A manifestação mais cruel: Arquitetura Hostil

A forma mais concreta e visível da aporofobia é a chamada Arquitetura Hostil (ou Arquitetura Anti-Pobre).

Definição: A Arquitetura Hostil é o design urbano intencionalmente pensado para impedir a permanência e o descanso de pessoas em situação de rua. Assim, essa manifestação da aporofobia transforma o espaço público em um local de exclusão.

Exemplos Práticos de Arquitetura Hostil:

  • Grades e Pontas: Instalação de barras ou pontas de ferro sob viadutos ou em calçadas para impedir que pessoas durmam.
  • Bancos Divisórios: Bancos de praça com divisórias no meio, impossibilitando que alguém se deite.
  • Pedras Irregulares: Uso de pedras pontiagudas ou design irregular em portais e escadarias.

Repertório Sociocultural sobre aporofobia:

Para garantir a produtividade e legitimidade na Competência 2, você não deve apenas citar o conceito, mas conectá-lo a outras áreas do conhecimento.

1. Conexão Literária: Carolina Maria de Jesus

A obra “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, de Carolina Maria de Jesus, oferece uma experiência crua da aporofobia.

  • Argumento: O livro é um retrato da exclusão socioespacial e da invisibilidade da pobreza na São Paulo da década de 1960.
  • Aplicação na Redação: A trajetória de Carolina de Jesus, catadora de papel que vive em extrema vulnerabilidade, pode ser usada para contextualizar a permanência histórica do desprezo social, evidenciando que a aporofobia é um mal estrutural no Brasil.

2. Conexão Literária: Capitães da Areia, de Jorge Amado

A obra de Jorge Amado é um retrato atemporal da exclusão social e da marginalização da pobreza, sendo um caso clássico de aporofobia.

  • Argumento: O livro narra a vida de um grupo de meninos de rua, liderados por Pedro Bala, que vivem em um trapiche abandonado na cidade de Salvador. A sociedade local reage a esses jovens com medo, desprezo e criminalização, tratando-os não como crianças vítimas do abandono estatal, mas como “malfeitores” e “pragas” a serem erradicadas.
  • Aplicação na Redação: A trajetória dos Capitães da Areia pode ser usada para contextualizar a permanência histórica da aporofobia no Brasil. O medo e a aversão da elite de Salvador pelos meninos (que são pobres, desvalídos e sem laços sociais) justificam a inação do poder público e a violência policial, ou seja, reforçando a ideia de que a sociedade prefere criminalizar a pobreza do que combatê-la.

3. O Cortiço, de Aluísio Azevedo

Um clássico do Naturalismo que foca na degradação humana em um ambiente de pobreza.

  • Argumento: A obra descreve a vida em um cortiço no Rio de Janeiro, evidenciando como a pobreza, a falta de higiene e as condições insalubres afetam moral e fisicamente seus moradores. O cortiço é o espaço da segregação socioespacial, o lugar para onde a elite empurra os pobres.
  • Aplicação na Redação: É ideal para conectar a aporofobia à questão urbana e imobiliária. A aversão ao pobre se manifesta na criação de espaços insalubres e marginalizados, como o cortiço. Além disso, a repulsa da classe dominante por esse ambiente e seus habitantes reforça a necessidade de combater a exclusão socioespacial que gera a aporofobia.

4. Vidas Secas, de Graciliano Ramos

Esta obra é um pilar do Modernismo brasileiro e um repertório poderoso para ilustrar a miséria extrema.

  • Argumento: O livro retrata a saga da família de retirantes (Fabiano, Sinhá Vitória e seus filhos) no Sertão Nordestino, que luta por sobrevivência em um ambiente de seca e miséria. Nesse sentido, a narrativa foca na desumanização causada pela pobreza e pela fome, onde os personagens perdem a capacidade de comunicação e reflexão, sendo frequentemente comparados a animais.
  • Aplicação na Redação: Pode ser usada para contextualizar a dimensão geográfica e histórica da aporofobia. Assim, a indiferença da sociedade e do poder público em relação à situação dos retirantes pode ser interpretada como uma forma de aporofobia estrutural que relega o pobre à invisibilidade e à privação de sua dignidade humana.

5. Adela Cortina e a criação do conceito de aporofobia:

A filósofa espanhola Adela Cortina (2017) é a responsável por cunhar e popularizar o termo “Aporofobia”, dando um nome específico à hostilidade e ao desprezo direcionados unicamente àqueles que são pobres e desamparados.

Distinção Crucial: Aporofobia vs. Xenofobia

Cortina (2017) argumenta que o problema principal não é aversão ao estrangeiro em si (xenofobia), mas sim ao estrangeiro pobre.

  • Ela observa que a sociedade espanhola, por exemplo, demonstra xenofilia (amor e amizade) por turistas ricos, acolhendo-os em hotéis, lojas e praias.
  • Em contraste, essa mesma sociedade demonstra aversão e rejeição aos imigrantes e refugiados pobres, fechando-lhes as fronteiras e levantando muros.
  • Conclusão de Cortina: A rejeição não é pela nacionalidade, etnia ou religião, mas sim pela condição de pobreza da pessoa, especialmente por ela não poder “devolver nada de bom em troca” ou contribuir para o Produto Interno Bruto (PIB).

O Objetivo da Nomenclatura

Ao nomear a “hostilidade, rejeição ou aversão ao pobre” como Aporofobia (junção do grego áporos, pobre, com fobia), Adela Cortina buscava:

  1. Tornar o Fenômeno Visível: Segundo a filósofa, aquilo que não tem nome não existe no mundo humano.
  2. Exigir Ação: Ao ser nomeada, essa “patologia social” deve ser discutida, prevenida e reprimida pelas instituições políticas e sociais.

Desse modo, a Aporofobia, para Cortina, é um “atentado diário, quase invisível, contra a dignidade” do ser humano e deve ser combatida para garantir a justiça e a fraternidade.

Filmes sobre aporofobia:

A aporofobia, definida pela filósofa Adela Cortina como a aversão e o desprezo pelos pobres, manifesta-se de maneira complexa na sociedade contemporânea, e a sétima arte tem se consolidado como um poderoso espelho para essa patologia social.

O cinema, enquanto repertório sociocultural produtivo, oferece narrativas que vão além da denúncia da desigualdade econômica, explorando a dimensão simbólica, física e psicológica da rejeição ao desvalido.

1. Parasita (2019)

Este filme sul-coreano é um dos repertórios mais fortes para o tema. Ele não trata apenas da diferença de renda, mas da aversão explícita da família rica Park pelo “cheiro” da pobreza da família Kim.

além disso, a aporofobia é retratada na repulsa física e simbólica da elite pelo pobre, indicando que a segregação vai além do espaço físico e atinge a dimensão sensorial e moral, legitimando o desprezo.

Onde assistir? Prime Video

2. Que Horas Ela Volta? (2015)

O filme retrata as relações de trabalho e a hierarquia social em uma casa de classe média alta em São Paulo, evidenciando o tratamento desigual entre a empregada doméstica (Val) e sua filha (Jéssica).

Então, pode ser usado para argumentar que a aporofobia está enraizada nas relações cotidianas e no racismo de classe, manifestado na dificuldade em reconhecer o pobre como portador de direitos e mobilidade social, mantendo-o em um “lugar” social subalterno.

Onde assistir? Netflix

3. O Som ao Redor (2012)

O filme explora as tensões e a paranoia da classe média de um bairro de classe média alta do Recife. Desse modo, é um excelente exemplo da segregação e das relações de poder na sociedade brasileira.

Assim, denuncia a forma como a classe média se isola (guetos verticais e horizontais) e lida com a ameaça da pobreza ao seu redor, reforçando a segregação socioespacial e o medo do “outro” que não tem bens.

Onde assistir? Globoplay

CRIA: corretor de redação por inteligência artificial pode mudar o seu jeito de estudar

A aporofobia é um dos repertórios socioculturais mais relevantes e produtivos para quem se prepara para o ENEM, pois permite aprofundar a discussão sobre desigualdade de forma sofisticada e acadêmica.

Em suma, ao estruturar sua redação, use a definição de Adela Cortina (C2) e ilustre com o exemplo da Arquitetura Hostil (C3).

Mas como utilizar esse repertório produtivo? Conte com o CRIA!

O CRIA é o resultado de anos de pesquisa e desenvolvimento, para entregarmos o algoritmo ideal que analisa em até 2 minutos e grande precisão a redação do aluno, baseando-se nas competências do ENEM.

Assim, composto por um banco de dados com centenas de milhares de redações. Desde redações com nota zero até aquelas com nota mil, são a como base para nossa IA entregar ao aluno uma descrição detalhada de onde errou, como pode arrumar e o porquê tal erro gera desconto de pontos no ENEM. 

Gostou? Comece agora.

Perguntas frequentes sobre o repertório sociocultural sobre aporofobia:

Aporofobia é a mesma coisa que Xenofobia?

Não. Xenofobia é a aversão ou o medo de estrangeiros ou pessoas de outras culturas. Aporofobia é especificamente o ódio aos pobres, independente de sua nacionalidade ou origem. Adela Cortina enfatiza que a sociedade não se incomoda com o imigrante rico (com capital para investir), mas sim com o imigrante pobre.

O conceito de Aporofobia é legitimado no ENEM?

Sim. O conceito de aporofobia, cunhado pela filósofa Adela Cortina, é uma referência de área do conhecimento de alta legitimidade (C2 – Filosofia e Atualidades) e é amplamente aceito e citado em redações nota 1000, desde que seja pertinente ao tema.

Em quais temas posso usar o repertório sociocultural aporofobia?

O repertório sociocultural aporofobia é coringa em temas que abordam:
População em situação de rua.
Desigualdade e exclusão social.
Acesso à moradia e direitos básicos.
Violência e negligência urbana.

Como introduzir a citação de Adela Cortina?

Você pode introduzir de forma direta e concisa:
“Conforme a filósofa espanhola Adela Cortina, o ódio social tem uma face específica: a aporofobia, a aversão e o desprezo aos pobres.”

Referências:

[1] Dicionário Priberam

[2] Adela Cortina

[3] Extrema pobreza atinge 13,5 milhões de pessoas e chega ao maior nível em 7 anos

[4] Cadernos ODS

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